Evento reuniu dirigentes sindicais na sede do Sintrivest para discutir riscos psicossociais no ambiente de trabalho
A sede do Sintrivest foi palco, nesta segunda-feira, 14 de julho, de um importante painel promovido pelo Fórum de Entidades Sindicais de Trabalhadores de Brusque e Região (Fórum Sindical). O encontro reuniu dirigentes sindicais das entidades que integram o Fórum para debater as recentes alterações na Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que trata do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e passou a incluir, de forma expressa, os riscos psicossociais.
As mudanças, em vigor desde 26 de maio de 2025, representam um avanço na legislação trabalhista ao reconhecer que fatores como ansiedade, depressão, estresse ocupacional, assédio moral, metas abusivas, sobrecarga e insegurança profissional também devem ser monitorados e prevenidos no ambiente de trabalho. De acordo com o novo texto da norma, as empresas passam a ter a obrigatoriedade de elaborar planos de ação para prevenir e corrigir riscos psicossociais identificados no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Além disso, a NR-1 reforça a necessidade de treinamento das equipes, integração entre setores e acompanhamento contínuo das ações implementadas.
Durante o painel, o advogado da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (Fetiesc), Dr. Jairo Leandro Luiz Rodrigues, destacou que os sindicatos têm um papel fundamental nesse processo. Ele explicou que, conforme a norma, as entidades sindicais estão aptas a solicitar das empresas informações sobre como estão conduzindo a aplicação das novas exigências, inclusive sobre os métodos utilizados para avaliar os riscos psicossociais entre os trabalhadores.
“Se nós não tomarmos pulso disso agora, a situação pode se tornar incontrolável. Já estamos vivendo uma crise na saúde mental dos trabalhadores. Imagine quantos milhões de reais isso custa ao país em afastamentos, tratamentos e perda de produtividade”, alertou o advogado.
Os dados apresentados por Dr. Jairo são preocupantes. Segundo o Ministério da Previdência Social, em 2024 foram registradas 472.328 licenças médicas relacionadas à saúde mental, um aumento de 68% em relação ao ano anterior. Desse total, 64% dos afastamentos foram motivados por quadros de ansiedade e depressão. Em Santa Catarina, foram contabilizados 33.461 afastamentos por saúde mental, sendo 8.087 por ansiedade e 8.541 por depressão.
A dirigente sindical Marli Leandro, presidente do Sintrivest, questionou como os sindicatos devem se posicionar diante da aplicação de questionários pelas empresas para mapeamento dos riscos psicossociais. Dr. Jairo reforçou que a atuação sindical é legítima e necessária, e que a própria norma prevê essa participação, inclusive como forma de proteger os trabalhadores contra eventuais distorções ou uso indevido das informações coletadas.
Outro ponto importante discutido foi o prazo de adaptação. Embora a norma já esteja em vigor, as empresas têm até 26 de maio de 2026 para se adequar plenamente às novas exigências. Até lá, o Ministério do Trabalho atuará de forma orientativa e educativa. A partir de 2026, a fiscalização será efetiva e poderá resultar em penalidades às empresas que não estiverem em conformidade.
“Essas mudanças na NR-1 escancaram uma realidade que os sindicatos já vinham denunciando há muito tempo: os riscos à saúde mental dentro dos ambientes de trabalho precisam ser levados a sério. O aumento nos casos de afastamentos por ansiedade e depressão não é por acaso — é reflexo de um modelo que adoece. Por isso, é fundamental que os sindicatos estejam atentos, cobrando das empresas a aplicação correta da norma e, principalmente, acolhendo os trabalhadores e trabalhadoras que enfrentam esse tipo de sofrimento. O papel do Fórum Sindical é justamente esse: somar forças, compartilhar informações e garantir que a luta coletiva continue sendo a principal ferramenta de proteção à classe trabalhadora”, ressaltou o coordenador do Fórum Sindical, Izaias Otaviano.
